Page 5 of 366: carta #7

Querido pai, 

primeira carta que te escrevo. Olá. Não sabes disto, mas hoje lembrei-me de ti. Lembrei-me de nós. Lembrei-me do que fazíamos à anos e tenho saudades. Sempre fui a menina do papá porque só vivo consigo a quase dez anos. Dez anos. És a minha mãe ao mesmo tempo. Perguntou-me como te sentiras no início. Estarias tu assustado? Com medo de não saber como ajudar-me nas coisas de menina? Mas sempre fizeste um ótimo trabalho, mas não é disso que quero falar. Quero perguntar-te se te lembras de quando secavas o meu cabelo. De quando eu dormia na tua cama, porque apesar de ser crescida o suficiente para fazê-lo, eu não conseguia adormecer e tinha medo. Lembras-te de quando eras tu que me cortavas as unhas porque apesar de conseguir fazê-lo, era raro o dia em que tivesse vontade para fazê-lo? Lembras-te quando me vestias e eu era grande o suficiente para fazê-lo? Lembras-te de me levares todos os dias ao colo da tua cama para a minha para escolheremos a roupa que eu ia usar naquele dia? Lembras-te de jogaremos às cartas no sofá? De me veres a brincar com os tachos da cozinha sentada no chão da mesma, enquanto fazias o nosso jantar? Lembras-te? Eu era a menina mais feliz.

Já te disse algumas vezes que és a pessoa que eu mais amo neste mundo e já pensei muitas vezes para mim que eu não conseguiria um dia viver sem ti. 
Com muito amor, 

da tua filha respondona.